“Inexoravelmente, todos passaremos pelo fenômeno da morte, entretanto, a maioria prefere não falar dela, muito menos encará-la, entendê-la ou se preparar para a sua chegada.
Normalmente, prefere-se adiar o assunto para o momento em que o ciclo da vida enseja, de maneira irrevogável, a própria experiência ou quando se é induzido a lembrá-la, no mês de novembro, em data especialmente dedicada: – dia de finados.
Esse comportamento é decorrente da ausência de uma reflexão mais acurada sobre o porvir, a passagem da vida corporal à vida espiritual e, especialmente, sobre a Justiça Divina.
Somente a compreensão da Justiça do Pai dará condições para o entendimento e o aprofundamento sobre o advir.
Nesse particular, a Doutrina Espírita faz-nos entender com muita clareza, seriedade, lógica e bom senso a vida presente, a vida futura, o porvir da humanidade, a natureza dos Espíritos, suas relações com os homens, as Leis Morais e a imortalidade da alma, desmistificando a morte ao realizar um exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual, as penalidades e recompensas futuras, os anjos e demônios, as penas e a situação real da alma durante e depois da morte.
Desvendada, há dois mil anos, como uma transformação para a sobrevivência após a vida física, quando Jesus apareceu aos discípulos no terceiro dia após o sacrifício no Gólgota, a morte já não deveria fazer parte dos sentimentos humanos como algo misterioso ou como o fim de tudo. Ao contrário, desde aquela época, perdeu o seu entendimento tradicional para ser compreendida como o portal que revela a imortalidade do Espírito, confirmando, para os incrédulos, a coerência da Justiça Divina, que não interrompe a continuidade do progresso inexorável das criaturas em qualquer dimensão que se encontre.
A realidade é que a vida continua estuante em ambos os planos, que a imortalidade é benção do Pai Celestial às criaturas e que a morte é simplesmente um portal transformador que conduz o Espírito imortal de retorno à verdadeira vida, a espiritual.
Busquemos, então, a compreensão do reino de Deus e de sua Justiça para entendermos como a vida se apresenta em ambos os planos, a fim de que o bem-estar e a felicidade façam parte do nosso cotidiano, que exige uma visão correta de quem somos, o que estamos fazendo na Terra e para onde vamos.
Pois somos imortais.”
(Extraído da Revista Reformador de Novembro de 2015 – Editorial)
Joias Devolvidas
“Existe uma palavra-chave para enfrentarmos com serenidade e equilíbrio a morte de um ente querido: submissão.
Ela exprime a disposição de aceitar o inevitável, considerando que, acima dos desejos humanos prevalece a vontade soberana de Deus, que nos oferece a experiência da morte em favor do aprimoramento de nossa vida.
A esse propósito, oportuno recordar antiga história oriental sobre um rabi, que vivia muito feliz com sua virtuosa esposa e dois filhos admiráveis, rapazes inteligentes e ativos, amorosos e disciplinados.
Por força de suas atividades, certa vez o rabi ausentou-se por vários dias, em longa viagem. Nesse ínterim, um grave acidente provocou a morte dos dois moços.
Podemos imaginar a dor daquela mãe!… Não obstante, era uma mulher forte. Apoiada na fé e na inabalável confiança em Deus, suportou valorosamente o impacto. Sua preocupação maior era o marido. Como transmitir-lhe a terrível notícia?… Temia que uma comoção forte tivesse funestas consequências, porquanto ele era portador de perigosa insuficiência cardíaca. Orou muito, implorando a Deus uma inspiração. O Senhor não a deixou sem resposta…
Passados alguns dias o rabi retornou ao lar. Chegou à tarde, cansado após longa viagem, mas muito feliz. Abraçou carinhosamente a esposa e foi logo perguntando pelos filhos…
– Não se preocupe, meu querido. Eles virão depois. Vá banhar-se, enquanto preparo o lanche.
Pouco depois, sentados à mesa, permutavam comentários do cotidiano, naquele doce enlevo de cônjuges amorosos, após breve separação.
– E os meninos? Estão demorando!…
– Deixe os filhos… Quero que você me ajude a revolver um grande problema…
– O que aconteceu? Notei que você está abatida!… Fale! Resolveremos juntos, com a ajuda de Deus!….
– Quando você viajou um amigo nosso procurou-me e confiou à minha guarda duas joias de incalculável valor. São extraordinariamente preciosas! Nunca vi nada igual! O problema é esse: ele vem buscá-las e não estou com disposição para efetuar a devolução.
– Que é isso, mulher! Estou estranhando seu comportamento! Você nunca cultivou vaidades ….
– É que jamais vira joias assim. São divinas, maravilhosas!…
– Mas não lhe pertencem!…
-Não consigo aceitar a perspectiva de perdê-las!…
– Ninguém perde o que não possui. Retê-las equivaleria a roubo!
– Ajude-me!…
– Claro que o farei. Iremos juntos devolvê-las, hoje mesmo.
– Pois bem, meu querido, seja feita sua vontade. O tesouro será devolvido. Na verdade, isso já foi feito. As joias eram nossos filhos. Deus, que no-los concedeu por empréstimo, à nossa guarda, veio buscá-los!…
O rabi compreendeu a mensagem e, embora experimentando a angústia que aquela separação lhe impunha, superou reações mais fortes, passíveis de prejudicá-lo.
Marido e mulher abraçaram-se emocionados, misturando lágrimas que se derramavam por suas faces mansamente, sem burburinhos de revolta ou desespero, e pronunciaram em uníssono, as santas palavras de Jó: Deus deu, Deus tirou. Bendito seja o Seu santo nome!”
(extraído do livro Quem tem medo da morte, de Richard Simonetti)
SUGESTÃO DE LEITURA:
Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. V “Bem-aventurados os aflitos”, item 21; Cap. VI “O Cristo Consolador”.
Quem tem medo da morte? – Richard Simonetti.
Muita paz!
Editorial – Revista Reformador – Novembro de 2015 – acervo da Revista Reformador – FEB
SIMONETTI, Richard. Quem tem medo da morte? 3ª ed. Bauru – SP, CEAC Editora, 2003.