“Os sonhos dos poetas, as visões dos místicos, as criações do gênio, as comprovações e demonstrações da Ciência, as realizações mais perfeitas da Arte são apenas ecos muito débeis e percepções pequeninas que os homens, com melhores dotes, captam como em um relâmpago quando a matéria, dominada por poucos instantes, permite que a alma possa entrever alguns pálidos reflexos do mundo divino.” – (O Mundo Invisível e a Guerra, Léon Denis, 2ª edição, Rio de Janeiro: CELD, 2001, p. 323).
No livro O Espiritismo na Arte, Léon Denis retrata, detalhadamente, o mecanismo da inspiração e o importante papel que ela tem desempenhado, em todos os tempos, na evolução das artes e do pensamento. Esta obra foi elaborada com base em uma série de artigos escritos por Léon Denis em 1922, para a Revue Spirite (revista espírita francesa fundada por Allan Kardec). Nela, Léon Denis inclui e comenta dez comunicações do espírito que se autodenomina o Esteta e cinco do Espírito Massenet.
Na parte V do livro O Espiritismo na Arte, Léon Denis nos fala que “(…) chega um momento, na história do pensamento, em que a palavra e o gesto não são mais suficientes para traduzir as emoções da alma. E é nesse momento que o senso musical desperta e entra em ação na própria literatura, que deve ser como um reflexo da harmonia superior. A manifestação dessa tendência marca um grau a mais na ascensão do espírito em direção aos níveis mais elevados, assim como acontece no espaço onde a palavra deixa de ser empregada.”
“Essa evolução do pensamento e de suas manifestações, sob suas inúmeras formas; arte, ciências, letras, será dirigida por uma participação cada vez mais íntima e profunda do mundo espiritual na obra humana.”
“A revelação espírita nos proporciona inesgotáveis temas de inspiração e de sensação. Ela nos inicia nas condições de uma vida mais sutil, vida que é a finalidade essencial de toda ascensão e da qual os detalhes introduzem, nos programas de estudos e pesquisas, uma variedade de elementos que estendem ao infinito os limites de nossas concepções, de nossos conhecimentos. (…) Assim, o Espiritismo dá ao pensamento, um novo e rigoroso impulso. Ele traça, na história dos seres e dos mundos, um círculo imenso, que permite que todos os sonhos, todos os voos da imaginação; ele abre novas saídas para tudo o que faz o poder, a grandeza, a beleza do Universo.”
“À medida que seus horizontes se alargam e que a humanidade se comunica com a vida universal, formas mais perfeitas de expressão e de sensação tornam-se necessárias, para responder ao estado vibratório, às radiações crescentes da alma. Uma intuição segura, o instinto do belo, levam o ser espiritual a substituir, na expressão do seu pensamento e no entusiasmo de sua alma, a harmonia pura pela palavra e pela letra. As revelações do Invisível o estimulam a empregar, por sua vez, os procedimentos em uso na vida do espaço.”
Em O Livro dos Espíritos, na questão 521, Allan Kardec pergunta aos Espíritos: Certos Espíritos podem auxiliar o progresso das artes, protegendo os que se dedicam a elas? E os Espíritos respondem: “Há Espíritos protetores especiais e que assistem os que os invocam, quando os julgam dignos. Mas que quereis que façam com os que pensam ser o que não são? Eles não fazem os cegos verem, nem os surdos ouvirem.” Nos comentários de Kardec, ele explica que “(…) Tendo cada homem Espíritos que com ele simpatizam, segue-se que, em todas as coletividades, a imensa maioria dos Espíritos que lhes votam simpatia guarda proporção com a generalidade dos indivíduos; que os Espíritos estranhos são atraídos para essas coletividades pela identidade dos gostos e dos pensamentos; em suma, que esses agrupamentos de pessoas, tanto quanto os indivíduos, são mais ou menos envolvidos, assistidos e influenciados, de acordo com a natureza dos pensamentos dominantes daqueles que os compõem. (…)”
Dando continuidade ao livro O Espiritismo na Arte, Léon Denis, no que se refere às qualidades de um belo estilo, explica que “(…) Sem dúvida, fazer pensar é nobre, mas o que é mais nobre e mais meritório é elevar a alma em direção às alturas onde todas essas faculdades se desenvolvem na luz e no amor. É ajuda-la a atingir o grau de evolução que lhe permitirá sentir, não mais por seus órgãos materiais, mas em seus sentidos íntimos e profundos, as alegrias, as satisfações da vida superior; sentir essa vibração suprema que enche o Universo, segundo o ilustre Esteta (Espírito que se comunica no livro com verdadeiras lições sobre o tema arte), e que provoca a comunhão definitiva com o pensamento divino, o êxtase na beleza compreendida e realizada.”
Ao falar sobre a poesia e a música, Léon Denis nos diz que “A poesia, na realidade, é apenas uma forma da música. Ela é submetida às mesmas leis do ritmo, da vibração, que são as leis da vida em seus estados superiores.”
“Em toda obra pretendida: literatura, poesia, arte, a escolha dos meios deve ser apropriada à grandeza do objetivo. Na verdade, a poesia está em toda a parte onde a colocamos. Ela não se exprime somente pelo verso; ela pode impregnar todas as formas da linguagem escrita ou falada, todos os aspectos da arte. A poesia é a expressão da beleza propagada em todo o Universo. É o ardor comunicativo da alma que compreendeu, alcançando o sentido profundo das coisas, a lei das supremas harmonias e que busca penetrá-la em outras almas, pelos meios que lhe são próprios.”
O Espírito Esteta, ao falar sobre a música e a transmissão do pensamento artístico, explica que “No espaço, como sabeis, não temos instrumentos, são nossos perispíritos que recebem as ondas transmissoras do pensamento musical. Também será preciso impregnar diretamente os seres que devem receber ondas dessa natureza. Como os outros artistas, o espírito evoluído no sentido musical, e que pode experimentar sensações infinitamente suaves e sutis, também pode transmiti-las com a ajuda de vossos instrumentos e por intermédio do cérebro de um dos vossos executantes.” Ele conclui a mensagem dizendo que “A arte, mensageira do divino, é a chama que jamais deve se apagar, ela deve nos fazer compreender que a beleza e a glória de Deus são infinitas. Pode haver arte mesmo nas mais pequenas ações se, adaptando-se ao meio onde age, a irradiação divina que se exterioriza espalha ao seu redor uma chuva de ondas benéficas. Como há evolução nos seres, há evolução nas artes. Vós tendes os primitivos nas artes, assim como nas ações e nas virtudes, porém, a centelha sempre brilha nas condições em que ela pode se manifestar para confirmar a grandeza de Deus.”
No livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo VII, Instruções dos Espíritos, “Missão do homem inteligente na Terra”, item 13, o Espírito protetor Ferdinand nos diz: “Não vos envaideçais do que sabeis, porque esse saber tem limites muito estreitos no mundo em que habitais. Mesmo supondo que sejas uma das sumidades inteligentes desse globo, não tendes nenhum direito de envaidecer-vos. Se Deus, em seus desígnios, vos fez nascer num meio em que pudestes desenvolver a inteligência, é que deseja que a utilizeis para o bem de todos; é uma missão que Ele vos dá, pondo em vossas mãos o instrumento com que podeis desenvolver, por vossa vez, as inteligências retardatárias e conduzi-las a Ele. A natureza do instrumento não indica o uso a que deve prestar-se? A enxada que o jardineiro põe nas mãos do seu ajudante não indica que este último deve cavar a terra? Que diríeis, se esse ajudante, em vez de trabalhar, erguesse a enxada para ferir o seu patrão? (…)”
Em O Livro dos Médiuns, 2ª Parte, Capítulo XV, no subtítulo “Médiuns inspirados ou involuntários”, item 183, Allan Kardec nos diz que “Os homens de gênio, de todas as espécies, artistas, sábios, literatos, são sem dúvida Espíritos adiantados, capazes de compreender por si mesmos e de conceber grandes coisas. Ora, é justamente por julgá-los capazes que os Espíritos, quando querem executar certos trabalhos, lhes sugerem as ideias necessárias, de modo que eles são, na maioria das vezes, médiuns sem o saberem. Não obstante, eles têm uma vaga intuição de uma assistência estranha, visto que todo aquele que apela para a inspiração mais não faz do que uma evocação. Se não esperasse ser atendido, por que exclamaria, com tanta frequência: meu bom gênio, vem em meu auxílio? (…)”
SUGESTÃO DE LEITURA: O Livro dos Espíritos, Livro Segundo, Capítulo X, “Ocupações e missões dos Espíritos”, nas questões 565 e 566.
Meditando sobre estes ensinamentos, gostaríamos de lembrar que no mês de julho, mais precisamente no dia 07 de julho de 1932, foi lançada a 1ª edição do livro Parnaso de Além Túmulo, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, sendo também o seu 1º livro psicografado. Ditado por mais de 56 poetas da língua portuguesa, brasileiros e portugueses, é preciosa coletânea, quer pela variedade de temas, quer pela superior inspiração, apresentando, os autores, uma das provas subjetivas mais robustas em favor da sobrevivência da alma após a morte.
E assim sendo, faremos uso das palavras do Espírito Esteta, no livro O Espiritismo na Arte: “Para concluir nossas palavras, a arte é, para o ser humano, o chamado do campo divino. Quanto mais um ser, por sua vontade e por seus atos, se aproxima de Deus, mais ele está apto a sentir os eflúvios e as vibrações divinas. Segundo sua evolução, essas vibrações se traduzirão por criações de virtudes, com a palavra virtude sendo tomada de um sentido bastante geral. Em minha consciência ela significa tudo o que é digno de ser amado. A arte, portanto, é um dos meios de se sentir a grandeza de Deus. (…) É preciso venerar e amar a arte, porquanto, através da imensidão do espaço, ela é a mensageira da imortal irradiação e do movimento divino universal.”
Muita paz!
DENIS, Léon. O Espiritismo na Arte. [tradução de Albertina Escudeiro Sêco]. – 2.ed. – Rio de Janeiro: CELD, 2008.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. [tradução de Evandro Noleto Bezerra a partir da 2ª, 4ª, 5ª, 6ª, 10ª e 12ª.ed. francesas]. – 4.ed. – 2.imp. – Brasília: FEB, 2014.
KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. [tradução de Evandro Noleto Bezerra da 3ª. ed. Francesa. revista, corrigida e modificada pelo autor em 1866]. – 2.ed. – 3.imp. – Brasília: FEB, 2015.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. [tradução de Evandro Noleto Bezerra a partir da 2ª edição francesa de 1861]. – 2.ed. – 1.imp. – Brasília: FEB, 2013.